A jornalista bielorrussa Svetlana Aleksiévitch
consegue fazer jornalismo literário emocionante e de tirar o fôlego. Não li
nenhum outro, mas As Últimas Testemunhas
acredito que já é uma bela amostra de sua capacidade narrativa. Narrativa essa
que ela deixa delicadamente na mão de suas testemunhas, os que melhor saberiam
contar as histórias de horror da segunda guerra que vivenciaram os povos
eslavos, os retratados nessa obra.
Ela recolheu e costurou depoimentos de pessoas
que eram crianças na época e conseguiu com que eles transpusessem em palavras
os sentimentos que tiveram naquele momento, enquanto ainda eram inocentes e em
muitos casos nem entendiam o que exatamente estava acontecendo. Alguns são
relatos mais curtos, outros mais longos, mas todos de extrema sensibilidade.
Mostram uma relação muito forte das crianças com os pais, que vão para a guerra
e muitas vezes não voltam, com as mães que ficam e cuidam da casa e dos filhos
e que muitas vezes também são mortas. Outras imagens muito presentes são dos
alemães, de aldeias queimadas, valas, trens, avós, outras crianças, e de fome,
muita fome. A ponto de comer terra, de comer um bicho de estimação, com um
único instinto, o de sobrevivência. É tão tocante, mas tão pesado que, ao mesmo
tempo em que fiquei tentada a ler outra obra da autora, tive que dar um tempo,
porque o clima fica muito tenso mesmo. É emocionante. Svetlana é uma das mais
importantes vozes da atualidade.
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