quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

#30 As Últimas Testemunhas, Svetlana Aleksiévitch


A jornalista bielorrussa Svetlana Aleksiévitch consegue fazer jornalismo literário emocionante e de tirar o fôlego. Não li nenhum outro, mas As Últimas Testemunhas acredito que já é uma bela amostra de sua capacidade narrativa. Narrativa essa que ela deixa delicadamente na mão de suas testemunhas, os que melhor saberiam contar as histórias de horror da segunda guerra que vivenciaram os povos eslavos, os retratados nessa obra.
Ela recolheu e costurou depoimentos de pessoas que eram crianças na época e conseguiu com que eles transpusessem em palavras os sentimentos que tiveram naquele momento, enquanto ainda eram inocentes e em muitos casos nem entendiam o que exatamente estava acontecendo. Alguns são relatos mais curtos, outros mais longos, mas todos de extrema sensibilidade. Mostram uma relação muito forte das crianças com os pais, que vão para a guerra e muitas vezes não voltam, com as mães que ficam e cuidam da casa e dos filhos e que muitas vezes também são mortas. Outras imagens muito presentes são dos alemães, de aldeias queimadas, valas, trens, avós, outras crianças, e de fome, muita fome. A ponto de comer terra, de comer um bicho de estimação, com um único instinto, o de sobrevivência. É tão tocante, mas tão pesado que, ao mesmo tempo em que fiquei tentada a ler outra obra da autora, tive que dar um tempo, porque o clima fica muito tenso mesmo. É emocionante. Svetlana é uma das mais importantes vozes da atualidade.

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