quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

#50 Canção de Ninar, Leïla Slimani


Este foi último livro que li em 2018. Ouvi falar de franco-marroquina Leïla Slimani na época da FLIP (Festa Literária de Parati) no ano passado e fiquei muito interessada nesta narrativa que mostra como a vida de uma família de classe média em Paris é afetada pela presença e atitudes da babá que finalmente contrataram para que Myriam pudesse voltar a trabalhar depois de ter dois filhos.
O casal busca a pessoa ideal para a tarefa de cuidar dos filhos e Louise se encaixa perfeitamente: muito educada e discreta, as crianças caem de amores por ela logo de cara. Mas a relação simbiótica entre babá e família acaba sendo de dependência, e o tiro a princípio certeiro acaba saindo pela culatra e uma tragédia acontece. O desfecho conhecemos desde o início, mas a narrativa se sobressai ao trazer à tona questões de preconceito de classe e de cultura, relações de poder e o papel da mulher na sociedade. Escrito de forma brilhante. Excelente para terminar as leituras do ano de 2018.


quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

#49 Nada, Carmen Laforet


Nada conta a história da jovem Andrea, que vai do interior da Espanha para a Barcelona pós-Guerra Civil Espanhola a fim de cursar Letras na universidade local e morar com os parentes que lá vivem.
Seu percurso acadêmico fica em segundo plano para dar lugar ao sentimento de inadequação que Andrea vive. A começar pela sua chegada à casa em que moram a avó e alguns tios. Sinais de decadência na moradia e nas relações entre os familiares saltam aos olhos. A jovem sente que é um incômodo na casa, pois veio a dar gastos e desequilibrar ainda mais uma dinâmica que já não era nada equilibrada.
Na universidade, mais sentimento de não-pertencimento: ela sente vergonha de suas roupas, seus sapatos, sua falta de materiais, sua origem humilde, enquanto todos os outros alunos parecem ter condições melhores. Ena é a amiga que acolhe Andrea, mas com quem também parece ter uma relação ambígua.
Um dos méritos da escritora Carmen Laforet foi de não ter feito uma crítica aberta ao regime franquista, revelando detalhes de como era a vida sob a ditadura de forma bastante sutil. Com isso, escapou da censura do período, sendo até agraciada com o Prêmio Nadal. No entanto, a família da escritora se viu retratada por meio de vários personagens do livro, se ofendeu e policiou suas publicações futuras, o que culminou em obras cada vez mais escassas.
Com uma linguagem limpa, livre de sentimentalismos (mesmo diante de uma realidade triste e difícil), Carmen Laforet consegue expressar uma sensível poesia frente a atrocidades que marcaram a vida dos personagens.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

#48 Existo, Existo, Existo, Maggie O’Farrell


Este livro é uma coletânea de contos que juntos compõem as memórias da autora norte-irlandesa. Ela relata dezessete episódios em que esteve em uma experiência próxima da morte (sua ou de alguém muito próximo). Os títulos dos relatos são sempre relacionados a alguma parte do corpo (a que esteve mais em perigo) e o ano quando aconteceu.
Se por um lado impressiona o tratamento linguístico e literário que a autora dá para as várias passagens, por outro fica aquela impressão de que “nossa, mas só aconteceu desgraça com essa mulher!”. Bem, é verdade que algumas experiências foram algo até corriqueiro, que ao transformar num conto, O’Farrell imprimiu uma aura de excepcionalidade. Também é verdade que a escritora teve uma doença muito grave quando criança, quando os médicos disseram que ela jamais voltaria a andar ou ter uma vida normal, o que ela conseguiu fazer. Além disso, a doença grave de sua filha que a coloca em perigo constante de ter um choque anafilático.
Assim, é de se louvar que tenha conseguido dar vazão à criatividade diante de adversidades tão severas e transformado dor, medo e desesperança em arte. Só por isso já vale a pena.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

#47 A Sutil Arte de Ligar o Foda-se, Mark Manson


O que me chamou a atenção nesse livro foi a objetividade do título. Daí pensei: "Vamos ver o que esse cara tem pra dizer". Acredito que a mensagem principal é que a busca desenfreada por sucesso e felicidade (muitas vezes impulsionada pelo que vemos da vida dos outros pelas lentes das redes sociais) não vai nos trazer nada. Você vai ouvir “não”, você vai falhar, vai ter problemas, vai sofrer, você não é especial e tudo bem! Conviva com isso. Aceite seus defeitos. Não significa se acomodar, mas não buscar a perfeição porque (surpresa!!!) ela não existe. Nós não vamos ser felizes sempre. E sofrer e ter momentos de tristeza fazem parte do crescimento e tem sua importância na nossa formação.
A linguagem é direta e a leitura te prende. Uma grande obra de filosofia? Claro que não. Nem o autor se propôs a isso. Autoajuda? Ele não a classifica dessa forma, mas está bem perto de algumas outras do gênero.  Muitas coisas que ele diz no livro a gente instintivamente sabe, mas às vezes precisamos que alguém nos diga para que caia a ficha.

domingo, 27 de janeiro de 2019

#46 Sting – Fora do Tom, Sting


O que eu mais gosto sobre ler (auto)biografias de músicos que admiro é, não só conhecer um pouco mais de sua vida, suas motivações, mas entender o contexto da cena da época no local em questão, sempre tão rica pra quem é amante de música como eu, que nos meus anos de juventude ainda nutria o desejo secreto de seguir uma vida nessa área - seja cantando ou escrevendo sobre o assunto, por isso fui estudar Jornalismo.
The Police foi uma banda que sempre respeitei, mas nunca esteve na lista das minhas mais mais. Certamente passariam na frente outras muito, mas muito mais trash. Porém, tenho uma ligação inegável com ela: já me apresentei cantando “Roxanne”, “King of Pain” e fazendo backing vocals para “Message in Bottle” (eu nem tinha contabilizado isso ainda; só saquei ao escrever esse texto aqui). Quando vi essa autobiografia do Sting pensei que seria uma bela oportunidade de conhecer um pouco mais sobre detalhes de sua vida e sua carreira.
Ele não traça uma trajetória linear de tudo, mas relata episódios que são cruciais e juntos formam uma boa ideia do que o levou a ser um dos maiores artistas dessa era desde quando era garotinho no norte da Inglaterra até o sucesso do primeiro disco do The Police. Tem um pouco da relação com os pais, a escola, sua formação como professor, o interesse precoce pela música (ajudado pelo fato de os pais serem também muito ligados a essa arte), os perrengues para pagar as contas, as namoradas, as primeiras bandas e shows. O livro começa relatando um episódio em que ele e sua esposa Trudie tomam o chá de ayahuasca no Brasil, experiência que se torna reveladora.
Além de detalhes de que eu não fazia ideia, pude me deleitar com um livro muito bem escrito (apesar de alguns mínimos deslizes de revisão na versão em português). Você percebe as referências cultas do músico, sua sensibilidade e como isso permeou toda sua vida artística. Um imenso prazer!

sábado, 26 de janeiro de 2019

#45 O Deserto dos Tártaros, Dino Buzzati


Um jovem militar é destacado para atuar num castelo longínquo ao norte (o local é impreciso), que faz divisa com um deserto por onde se prevê um iminente ataque dos tártaros. Com a possibilidade de lutar uma grande batalha e entrar apara a história, Giovanni Drogo segue para sua missão e começa a esperar que o tão temido mas promissor embate com os inimigos ocorra.
À espera de algo que vai sempre sendo adiado, adiada também é sua própria vida e de seus colegas na mesma missão. Relato introspectivo de cunho filosófico. Quantas vezes não deixamos de viver o presente, contando com um futuro do qual não se tem a mínima certeza?
Quem espera grandes acontecimentos vai se decepcionar. Mas quem curte reflexão vai se deleitar com esse livro do meu quase primo (rsrsrs).

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

#44 O Complexo de Portnoy, Philip Roth


Obsceno e provocador, O Complexo de Portnoy, de Philip Roth, autor norte-americano que morreu em maio de 2018 aos 85 anos, traz o personagem principal, Alex Portnoy, em um relato de sua vida e seus problemas ao analista. Judeu, Alex se ressente da educação repressora que teve devido à sua origem e deixa claro que isso o levou a uma vida adulta com uma sexualidade e relacionamentos desequilibrados. O tom é de muito humor; há passagens divertidíssimas. A linguagem é direta, sem preocupação com pudores.
No entanto, Alex se culpa por não conseguir se desvincular da casa dos pais, mesmo já não morando com eles, de não telefonar tanto, de viajar sem avisá-los. Ele é obcecado pela masturbação e quanto mais se culpa, mais pratica. Os pais são retratados como judeus caricatos e responsáveis pela culpa que o protagonista sente por não estar tão presente, como nesta passagem: “Esses dois são os maiores produtores e vendedores de culpa do século! Eles extraem culpa de mim como quem tira gordura de um frango!”
Do mesmo autor já li A Marca Humana, totalmente diferente, mas muitíssimo interessante também. Já há outros na fila de espera.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

#43 Caixa Preta, Jennifer Egan


Este é um conto que acabou saindo publicado como um livro. A ideia era que o texto tivesse formato de tuítes e saiu originalmente em doses diárias na revista New Yorker. Às vezes parece que ela está dando conselho para uma amiga (já que é narrado em 2ª), mas de fato são notas para si mesma, como um apanhado de aprendizados.
Essa trama futurista mostra uma espiã a serviço de homens poderosos e submetendo seu corpo ao implante de câmera, GPSs e dispositivos de memória e também o colocando à disposição do que precisar ser feito para obter informações úteis ao governo de seu país.
Embora incomode bastante o papel da mulher utilizando da sedução para obter informações confidenciais, a ideia do tipo de narrativa e a narrativa em si são muito interessantes. Também não gosto muito de histórias futuristas, mas é bom sair da zona de conforto um pouco.
Jennifer Egan é uma autora norte-americana contemporânea muito interessante. Há outras obras suas que eu gostaria de ler e gostei muito de A Visita Cruel do Tempo (quem tiver interesse em ler a resenha que fiz aqui fique à vontade https://adrianabuzzetti.blogspot.com/2018/05/15-visita-cruel-do-tempo-jennifer-egan.html. Quem gosta do mundo do rock vai curtir).

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

#42 Garra – O Poder da Paixão, Angela Duckworth


Ouvi falar deste livro em um curso de gestão comercial que fiz e me interessei por lê-lo. Utilizando conceitos que eu já havia conhecido no famoso livro Mindset (https://adrianabuzzetti.blogspot.com/2018/03/8-mindset-nova-psicologia-do-sucesso.html), ele diz basicamente que esforço é mais importante que talento. O talento pode ser um facilitador, uma porta de entrada, mas é o esforço e a dedicação que vai levar a pessoa a realizar as coisas que deseja. Consegui fazer um paralelo com o meu desenvolvimento na língua inglesa. Tive facilidade desde meu primeiro contato, talvez eu tenha talento para aprender línguas estrangeiras, mas se eu não tivesse me dedicado, se não tivesse estudado horas e horas para prestar exames internacionais, talvez eu não tivesse chegado ao nível de conhecimento e uso da língua a que cheguei, talvez eu não tivesse me tornado professora de inglês e nem trabalhasse nesse ramo.
A autora trata de como é importante se dedicar a praticar algo que se descobre gostar e que saber que o que você faz é importante também dá mais motivação para realizar. Embora ela diga que tenha sido educada para não cultivar sonhos idealistas de fazer o que se ama, ela mostra no livro o quão importante é gostar do que se faz para estar feliz e satisfeito. Como um todo, o livro pode ser um pouco repetitivo, mas a leitura é agradável e os ensinamentos são bem úteis.
Em tempo: Quem quiser ver o vídeo de Angela Duckworth falando sobre o assunto em uma TED Talk, clique aqui:

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

#41 Southernmost – Rumo ao Sul, Silas House


Confesso que quase desisti. Levei várias páginas para me engajar um pouquinho na história e, ainda assim, depois de quase 100 páginas lidas eu quis parar. Mas aí já seria uma desonra desistir, então aguentei firme.
A história se passa no sul dos Estados Unidos. Após uma enchente histórica, o pastor Asher Sharp abriga um casal homossexual em sua casa e sofre repreenda de sua esposa e da comunidade religiosa a que pertence. Após esse episódio, Asher faz um sermão contra a homofobia na sua igreja e acaba expulso. Pra completar, a mulher o deixa e ele perde a guarda do filho, com o qual foge para o extremo sul da Flórida. Segue-se uma saga em que ele tenta provar que seu ponto de vista estava correto, mas ao mesmo tempo consertar outros erros do passado.
O tema é atual e, embora a intolerância tenha sido exagerada no livro, verossímil. Resvala bastante na pieguice e como obra literária carece de méritos maiores. Não achei que faz jus a um tema que é tão presente e importante hoje.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

#40 Léxico Familiar, Natalia Ginzburg


Agora que 2018 acabou, posso dizer que Léxico Familiar foi um dos melhores livros que li no ano passado. Natalia Ginzburg narra as memórias de sua família na Itália dos anos 30 aos anos 50 através de seu particular linguajar. 
Seu pai, talvez o personagem mais peculiar, tem as melhores frases, que Natalia muitas vezes teve que explicar ao longo do livro: tinha sua opinião formada e explicitada sobre os filhos: o que deviam fazer, com quem (não) deviam andar, o que (não) eram boas companhias, se sabiam ou não educar os filhos....sempre com aquela sinceridade que às vezes nos falta com o anseio de agradar.
Enquanto mostra a família como um clã que tem sua linguagem própria como sinal de pertença, de marcação de lugar no mundo, o livro vai ao mesmo tempo deixando claro que essa união pode se desfazer com o que acontece ao redor. Ao mesmo tempo que trata de um microcosmo é o recorte de um momento histórico.

domingo, 20 de janeiro de 2019

#39 História Bizarra da Psicologia, Raquel Sodré


Livro que conta com linguagem fácil e até coloquial e bem-humorada curiosidades e detalhes sombrios da história da psicologia, passando por estudos, tratamentos e experimentos os mais bizarros, para fazer jus ao nome do livro. Na Idade Média, pessoas com problemas psíquicos eram consideradas ter o diabo no corpo, pra dizer o mínimo.
Desde que pesquisadores começaram a investigar o que está por traz do funcionamento da mente, as coisas mais estranhas já foram feitas para tentar chegar a descobertas ou a lugar nenhum. Como curiosidade e passatempo, é uma leitura agradável e interessante.

sábado, 19 de janeiro de 2019

#38 Meu Livro Violeta/Por Você, Ian McEwan


O inglês Ian McEwan é um dos meus autores favoritos contemporâneos, mas confesso que esse duo Meu Livro Violeta/Por Você não me empolgou, não.
A primeira história, Meu Livro Violeta, é um conto meio esticado sobre uma traição literária. Os personagens principais são autores, o que é sempre interessante. Mas aqui não tem nada daquela profundidade delicada do autor em suas outras obras.
Por Você trata de uma traição amorosa e o ambiente é o meio musical clássico (que já esteve presente de leve em outros livros de McEwan) em formato de opereta.
Nenhum dos dois empolgou, porém não tiram minha admiração pelo escritor britânico.
Em tempo: McEwan será curador da TAG Experiências LIterárias, aquele clube de leitura do qual faço parte, este ano! Não vejo a hora!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

#37 Julio Cesar, William Shakespeare


O que dizer de um clássico? E quando esse clássico é Shakespeare a coisa fica mais difícil ainda. “Julio Cesar” faz parte das peças históricas de William Shakespeare e retrata a Roma de ano 44 a.C. Eu li a edição de um box maravilhoso da editora Nova Fronteira (mais maravilhoso ainda porque comprei em uma promoção). A história é conhecida: Julio Cesar é um imperador poderoso e influente que acaba sendo assassinado por um até então aliado, Brutus, que alega que a ambição desmedida de Cesar o estava levando à tirania. A princípio, sua versão é comprada e ele é tido como herói. Outro aliado de Cesar, Marco Antonio, sai em sua defesa, acusa Brutus de traição e sua versão acaba sendo a aceita no final.
O que é impressionante é como pouca coisa mudou em 2 mil anos na política: a traição, o poder desenfreado, a desmedida (a húbris grega), está tudo aí esse tempo todo. Shakespeare é tão atual e entendeu tanto a alma humana que é isso que faz dele o que é. Quem lê em inglês e quer saber um pouquinho mais sobre sua atemporalidade, deve ler este artigo aqui que saiu no jornal inglês The Guardian em 2017:
https://www.theguardian.com/books/2007/apr/14/classics.shopping


quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

#36 O Quarto em Chamas, Michael Connely


História de detetive empolgante, que prende a leitura, mas nada de muito vigor literário. Personagens previsíveis; reviravoltas, também. Uma pessoa morre após 10 anos de um crime ser cometido e o detetive Bosch é chamada para resolver o caso e cavoucar em provas que estão enterradas no passado. Para isso, conta com a ajuda a detetive em ascensão Lucy, recém-reconhecida pela participação em um caso importante.  A investigação esbarra num outro caso do passado que está intimamente ligado á história da jovem investigadora. Um bom passatempo.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

#35 A Coisa Mais Próxima da Vida, James Wood


James Wood é um crítico literário inglês que neste livro, A Coisa mais Próxima da Vida, traz uma coletânea de ensaios que acabam sendo quase que uma obra de arte pela delicadeza com que defendem a ideia de que o romance, tão cheio de vida, paira acima da possibilidade da morte e segue incólume.
O livro é carregado de uma certa nostalgia por parte do autor, hoje na casa dos 50 e poucos anos, sobre sua infância e juventude. Por meio dessa obra, fica mais fácil compreender como e por que a literatura é uma forma de dar sentido ao quer parece inexplicável.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

#34 A Promessa/A Pane, Friedrich Dürrenmatt


Duas histórias em um livro. Nunca havia lido um autor suíço. Confesso que nem conhecia Friedrich Dürrenmatt. Em A Promessa, um policial não se conforma por não ter solucionado o assassinato de uma menina enquanto era o responsável pelo caso e traça um plano para, como um lobo solitário, pegar o assassino. Como os acontecimentos vão sendo revelados, torna o enredo um pouco anti-clímax, mas foi muito bem escrito.
Já em A Pane, um pouco mais curtinha, é dividida em duas partes. Na primeira, o autor faz uma reflexão sobre possíveis histórias para ficcionistas. Na segunda parte, temos uma história que pode ser uma resposta às opções da primeira parte. Alfredo Traps é um caixeiro-viajante que acaba sendo abrigado na casa de um ex-juiz quando seu carro tem uma pane na estrada. Lá também estão outros personagens (um ex-promotor, um ex-advogado, um ex-carrasco) que vão dar sequência a um jogo que termina de forma inesperada.
As duas histórias são muito bem contadas e os personagens tem sutilezas que só percebemos nas entrelinhas. Não percam!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

#33 O Tribunal da Quinta-Feira, Michel Laub


Férias, viagem, fim de ano... Por isso não dei conta de publicar todas as resenhas dos livros que li em 2018 (foram 50) e ainda estou fazendo isso. Espero em breve terminar, escrever a retrospectiva de 2019 e seguir com os livros deste ano.
Enquanto isso, ficamos com uma das melhores surpresas do ano passado. Tento ler autores brasileiros contemporâneos e tinha curiosidade na obra de Michel Laub, mas não tivera a oportunidade. Mas me chamou a atenção quando fui a uma livraria trocar um livro que ganhara de presente de aniversário e que já tinha.
Um livro sobre a quebra da privacidade e a hipocrisia que pode estar em todo canto quando as redes sociais deixam nossa vida tão à mostra, "O Tribunal da Quinta-Feira" se passa no ano de 2016 com acontecimentos que remontam os anos 80 e 90 e a epidemia da aids. A troca de e-mails entre dois amigos com linguajar peculiar para retratar a doença, o sexo, os seus relacionamentos é tornada pública e o julgamento que se segue pode ser o mote para nos fazer pensar como nos tornamos juízes do outro nessa era de acesso fácil ao que o outro fala, pensa, posta. Sinal dos tempos.