Meu interesse por leituras é
bastante vasto – dos autores canonizados a livros de psicologia e até alguns de
gestão de pessoas. Portanto, querer ler um clássico não é novidade nenhuma. Eu
cursei Letras, então, o acesso a vasta literatura e sua crítica é certo,
estimulante e, até certo ponto, frustrante, porque são tantas obras
interessantes que nos são apresentadas (e uma leva a outra, que leva a outra ad infinitum) que você tem a certeza de
que vai morrer (velhinha) e não vai conseguir ler tudo que tem vontade!
A gente sempre ouve falar de
variados clássicos da literatura mundial, mas Anna Kariênina me chamou a atenção principalmente na época em que
estava no 1º ano de Letras (2008) e cursava a disciplina Introdução aos
Estudos Literários 2 (IEC2) com a professora Betina Bischof (excelente!) – acho
que já a mencionei quando falei de Tchekhov... ah, os escritores russos.... Daí
que eu comprei aquela edição maravilhosa de capa dura, superbem trabalhada, de
uma editora que só faz obras no capricho, paguei um preço camarada, mas o livro
tem mais de 800 páginas, não conseguia posicioná-lo sobre o corpo (gosto de ler
deitada, a não ser que esteja estudando), empaquei antes de ler um terço da
obra, tinha pressa de terminar e ler outras coisas (não estava muito avançada
na arte de ler vários ao mesmo tempo ainda). Isso faz uns 4 anos.
Há uns três meses, resolvi que iria retomá-lo e
terminá-lo. Hoje sou muito acostumada a ler vários livros concomitantemente, e
se começasse a achar algum trecho dele enfadonho, poderia dar um tempo e passar
para outro com muita tranquilidade. Houve um facilitador que foi estar em
férias na primeira semana da minha empreitada, mas a verdade é que me apaixonei
pelo livro, pela escrita de Tolstói, pelo contexto histórico, pelos
personagens, pela Rússia, enfim, não conseguia parar. Até comecei e terminei
outro livro mais “fácil”, digamos, enquanto lia a obra-prima russa (Quase Memória, minha última resenha
publicada, #25), mas sentia falta, saudade dos personagens de Anna Kariênina quando não o lia.
De histórias de adultério, a literatura do século XIX
está cheia de bons livros (adoro Madame
Bovary e O Primo Basílio), mas o
romance de Tolstói me parece mais rico. Está presente todo o contexto histórico
da segunda metade do século XIX, com questões como a mecanização da
agricultura, a luta de classes, o parasitismo da aristocracia, o questionamento
sutil até do papel da mulher na sociedade,
as tradições e costumes da aristocracia russa, a situação dos mujiques,
o questionamento sobre a existência de Deus, o papel da religião, enfim, um
mosaico que poderia ter dado em uma obra sem foco e abrangente ao extremo de
forma a fazer o leitor perder o fio da meada. Mas a narrativa de Tolstói nesse
romance é tão bem intrincada que tudo faz sentido. Ele foi capaz de criar um
painel com as palavras de tal maneira que o leitor é capaz de visualizar tudo o
que está lendo. Sem contar a construção das personagens: tridimensionais, com
suas contradições, ricas em nuances.
Destaque para Liévin, desde o começo o meu favorito: questiona, tem dúvida, tem
certezas, é incoerente, ama, tem ciúmes, mais verossímil impossível!
Em tempo: confesso que retomei a
leitura do calhamaço agora no e-reader, bem mais leve e fácil de apoiar sobre o
corpo.