segunda-feira, 23 de abril de 2018

#14 Mutações da Literatura no Século XXI, Leyla Perrone-Moisés


Acho que é a primeira vez desde o início do blog, há um ano, que faço a resenha (=que leio ou termino de ler) um livro de crítica literária. Li tantos textos desse gênero na faculdade de Letras que, quando terminei, a ânsia de ler os romances que eu queria ler e estavam parados era tão grande que abandonei as teorias, embora elas me dêem um imenso prazer. Confesso que tenho muito livros ainda não lidos. Confesso até que comprei um segundo exemplar de um deles porque não lembrava que já havia comprado. Enfim, acontece. Quem sabe faço um sorteio aqui...
Bom, de Leyla Perrone-Moisés eu li alguns textos esparsos durante a graduação, mas esse Mutações da Literatura no Século XXI me chamou muito a atenção porque é muito difícil, fora dos jornais e revistas, ver crítica sobre obras contemporâneas. Além do mais, ela não é jornalista, mas uma crítica literária e professora universitária. O panorama que tece da literatura produzida neste século e no final do anterior não pretende ser completo, mas os aspectos que analisa dão bastante profundidade à discussão e a autora contextualiza com algumas obras e autores.
O livro é dividido em duas partes: I – Mutações Literárias e Culturais e II – A Narrativa Contemporânea. Na parte I a autora aborda o já tão pregado fim da literatura, contextualiza a literatura na cultura contemporânea, trata da crítica e (um dos melhores capítulos pra mim) o ensino da literatura. Na parte II, aborda a nova teoria do romance, intertextualidade e metaficção, distopia, o “romanção”, os escritores como personagens e a autoficção, entre outros. Ao final, faz uma conclusão sobre o que escreveu, mas alerta que um livro sobre literatura contemporânea não pode ser conclusivo justamente pelo fato de o contemporâneo ser/estar ainda inacabado. Pontuado isso, a autora retoma o “fim da literatura”, a concretude da literatura na leitura, o papel da literatura e dos leitores, do cinema, da TV e da internet na produção literária, as tendências atuais, mas mostra também que o futuro é incerto, embora o que sempre promoveu a sobrevivência da literatura tenha sido “o desejo de escrever e o prazer de ler” e isso hoje, embora tentem provar o contrário, ainda temos muito.
Uma leitura deliciosa. Até pra quem não é do ramo!

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Como ler mais


Várias pessoas me perguntam como eu consigo ler a quantidade de livros que leio. Na verdade, nem é tão absurda assim. No ano passado li 37. Neste ano, até agora, li 17, e estamos em abril. Porém, tenho que admitir que dos 17, uns 3 ou 4 eu havia começado no passado e terminei agora. Mas como a maioria das pessoas lê muito menos que isso (pesquisa feita pelo Ibope em 2016 aponta que brasileiro lê em média 4 livros por ano), posso parecer uma freak ou, no mínimo, uma pessoa sem vida social aos olhos dos outros.
Para os que gostariam realmente de ler mais e queiram saber como faço, aqui vão algumas dicas:
1.       Eu aproveito pequenos momentos livres ao longo do dia, às vezes são apenas 5 ou 10 minutos. Se a gente pensar que pra ler tem que ter 2 horas livres à frente, não vai rolar! Não dispomos desse tempo. Então, a fila do mercado, do banco, do cartório, a espera no consultório médico, tudo pode ser convertido em momento de leitura;

2.       Eu leio muito na hora do almoço. Almoço em cerca de 20 ou 30 minutos e reservo os 20 ou 30 restantes para a leitura. Me refugio numa sala sozinha no trabalho (quando possível) e isso garante minha sanidade no restante do dia. Digo isso, porque ler se tornou meio que uma necessidade fisiológica pra mim, afeta meu humor, a minha produtividade no trabalho;

3.       Leio vários livros ao mesmo tempo. Se eles são tipos diferentes, ajuda. Por exemplo, leio ao mesmo tempo um romance, um livro de história, um de crítica literária, uma biografia, outro de psicologia e por aí vai. Mas também é perfeitamente possível ler dois romances ao mesmo tempo. E qual a vantagem? Se uma leitura emperra, passe-se para a outra, depois volta-se à emperrada num momento mais oportuno e, com isso, uma delas pelo menos flui. Também porque momentos diferentes do dia e do seu humor pedem livros diferentes, na minha opinião. Outro motivo é que você não precisa acabar o que está lendo pra começar aquele outro que você quer tanto começar logo. Recomendo, porém, certo controle para que não tenha 20 livros começados e não termine nenhum, senão fica um pouco caótico.

4.       Sem perceber ficamos às vezes horas passeando pelas redes sociais só vendo posts de idas a restaurantes, praias, crianças brincando, piadas, vídeos. Muito disso não traz informação nenhuma. Parte desse tempo pode ser dedicado à leitura de forma muito proveitosa.

Que tal aproveitar o fim de semana (pra trabalha aos sábados, como eu, amanhã é feriado, então, terei um dia a mais) pra começar a pôr em prática! É só querer (mesmo)!

segunda-feira, 16 de abril de 2018

#13 Fahrenheit 451, Ray Bradbury


Distopia passada em um futuro em que ler e possuir livros se configura crime passível de ser punido com a incineração dos livros a 451 graus Fahrenheit, essa obra a princípio demorou pra me prender, mas conseguiu antes do meio. São poucos personagens e é possível montar um painel de como eles são construídos e o que eles representam. Guy Montag é um bombeiro, o que na história significa “queimador de livros”, que começa a questionar se o que ele faz é certo ao conhecer sua vizinha Clarisse. Ele já não sabe se o que pensa, em que acredita, o que faz é o que deve ser.
Muitas associações já foram feitas sobre a obra, mas o autor uma vez declarou que ela é sobre como a televisão destruiu o prazer da leitura – e ele não está tão errado. Mas muitas interpretações e alusões podem ser feitas. Leia e tire suas próprias.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

#12 Aguapés, Jhumpa Lahiri


Conheci a escritora inglesa de família indiana Jhumpa Lahiri através da TAG Experiências Literárias, quando me enviaram seu livro O Xará em fevereiro do ano passado. Gostei tanto que procurei o livro de contos da autora, Intérprete de Males. Maravilhoso! Faltava ler Aguapés, que é o mais recente também. O que é comum na obra de Jhumpa Lahiri é a visão do estrangeiro. Tem sempre alguém fora do seu lugar de origem e, muitas vezes, melhor adaptado lá do que no país de onde veio. Bastante presente também é o choque de gerações, entre os que ficaram e os que foram. E isso também ocorre em Aguapés.
Dois irmãos nascidos e criados em Calcutá acabam separados por escolhas de vida completamente diferentes: enquanto Udayan luta pela causa naxalita e vai a fundo nas suas convicções, Subhash se muda para os Estados Unidos em busca de uma carreira de pesquisador científico. Ao voltar para a Índia e encontrar a família despedaçada depois do que aconteceu com seu irmão, Subhash toma para si a incumbência de juntar os cacos e tentar sarar as feridas. Não vê que assim está levando adiante uma mentira, que só será reparada muito depois. 
Neste romance, assim com em outros da autora, a delicadeza da narrativa é que transforma a teia construída pelas emoções que perpassam a família Mitra em um belo mosaico de cultura, história e de afirmação da identidade.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

#11 O Alforje, Bahiyyih Nakhjavani


Livro da TAG Experiências Literárias de fevereiro, O Alforje integra aquela categoria de livros de autoras de quem eu nunca havia ouvido falar. Eu acho fantástico quando isso acontece. Ainda que eu me julgue muito conhecedora (presunção ou constatação), sempre tem coisas a se conhecer.
Pois eu nunca ouvira falar da iraniana Bahiyyih Nakhjavani até receber o livro desse clube maravilhoso que sempre me surpreende. Logo me interessou, pois sempre fui fascinada pela história do povo persa e mesmo do Irã atual. A história se passa no deserto no Oriente Médio, no final do século XIX, em que uma caravana levando uma noiva persa para se casar com seu noivo turco, união completamente arranjada e carregada de interesse das famílias, cruza uma região que serve de rota para peregrinos rumo a Meca. Alguns imprevistos, incluindo crimes, acontecem e a cada capítulo basicamente a mesma história é contada sob o viés de um personagem diferente que integra a história: a noiva, um peregrino, um beduíno, uma escrava e até um cadáver. Ao lermos vamos montando um quebra-cabeça, que muitas vezes exige que voltemos a um capítulo anterior para retomar alguma passagem e tentar completar a história. A maestria com que Nakhjavani construiu sua história praticamente permite que cada capítulo seja lido como um conto independente, mas que faz parte de um todo. Cada personagem, com suas particularidades, lutando a sua luta pela sobrevivência num mundo de certa forma hostil, traz elementos da natureza humana para enriquecer essa história tão bem tecida. Sou grata por ter acesso a literatura de altíssima qualidade.