segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

#4 E Não Sobrou Nenhum, Agatha Christie



Eu e meu amigo Otávio Al’ban estávamos outro dia falando novamente de escritores ou escritoras que nunca havíamos lido e eu tive coragem de admitir (e agora em rede nacional!) que nunca havia lido Agatha Christie (me julguem!). Ele disse ser fã incondicional da autora inglesa e eu pedi recomendações para me iniciar. Uma delas era E Não Sobrou Nenhum.

Clássico suspense que prende do início ao fim, em que em vários capítulos você acha que estão sendo dadas pistas de quem é o assassino e na verdade aquela pessoa acaba sendo a próxima que morre. Enfim, constatei porque a britânica se tornou a dama do suspense. Livro gostoso de ler, com uma história intrigante. Ótima diversão! Com certeza me aventurarei por outras obras suas.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

#3 Ciranda de Pedra, Lygia Fagundes Teles

Pode-se dizer que estou numa fase de acertar contas com autores que nunca li e há muitos e muitas brasileiras entre eles.
Lygia era dessas que eu só via o nome em coletâneas de contos e, confesso, nunca tinha tido nenhum interesse muito forte. Daí que conversando com meu amigo Otávio Al’ban, leitor voraz, esses dias sobre metas de leitura para 2018, ele me mostrou sua imensa lista de autores nacionais que quer ler esse ano. Não lembro se de fato Lygia estava entre eles, mas acendeu uma luzinha aqui pra mim de que eu deveria ler/conhecer mais autores nacionais também. Daí que o segundo empurrãozinho veio de uma promoção numa livraria de obras de Lygia Fagundes Telles com um preço bem convidativo para a versão digital. Escolhi apenas pela sinopse começar com Ciranda de Pedra, sem saber que esse foi o primeiro romance da autora. Juro, eu nem lembrava que já haviam sido feitas novelas desse romance! Não devo tê-las visto na época em que passaram.
Primeiro que essa mulher escreve fabulosamente bem. Há tantos não ditos, tantos “quases”, tantas sutilezas que perpassam a narrativa, que fazem desse romance uma obra de alto nível em termos de linguagem.
Segundo que a construção da protagonista Virgínia é toda no plano psicológico; o leitor entra na cabeça dela; acompanha seus pensamentos, seu raciocínio. Nós, leitores, vamos descobrindo a Virgínia no seu processo de amadurecimento ao mesmo tempo que ela própria vai se conhecendo. O desmembramento de sua família é que vai desencadeando suas reações e faz com que nós também questionemos a nossa existência e as nossas relações, quão hipócritas podemos ser em certos momentos e quão sabotadores chegamos a ser da nossa própria felicidade.

Enfim, fui muito feliz na leitura. Antes tarde do que nunca! 

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

#2 O Quinze, Rachel de Queiroz

Quando eu adquiri meu leitor digital pouco mais de um ano atrás, ganhei um livro de uma lista pré-selecionada pela loja e escolhi baixar O Quinze, do qual tinha ouvido falar brevemente no ensino médio, nas aulas de modernismo brasileiro. Aquela era uma época que me fascinava, os autores regionais. Li e reli Vidas Secas, de Graciliano Ramos, com imenso prazer e vontade de estudar um pouco mais. Já na faculdade de Letras, voltei a Graciliano com a obra São Bernardo, mas nunca voltei a Rachel de Queiroz. Em novembro de 2017 li As Três Marias, enviado pela TAG e resenhado aqui já (http://adrianabuzzetti.blogspot.com.br/2017/12/32-as-tres-marias-rachel-de-queiroz.html) e agora resolvi acertar as contas com o primeiro romance dessa escritora cearense. 
Já impressiona por ela o ter escrito aos 19 anos. A seca que relata era tão contundente que não pode passar incólume aos olhos da jovem escritora. Nele, ela narra a saga de famílias, representadas aqui pela de Chico Bento, que perdem trabalho porque se foi todo o gado, o pasto, enfim, suas formas de subsistência, devido à seca devastadora que assolou o nordeste brasileiro no ano de 1915. Na fuga do local de origem, alguns morrem, outros tentam caminhos alternativos que também não levam a uma vida mais digna. Há ainda o romance entre Conceição e Vicente, que permeia o livro todo.

Rachel tem uma prosa cativante que faz o leitor não querer parar de ler. O livro pode não ter a profundidade psicológica de um Graciliano ou a complexidade linguística, de enredo e narrativa de um Guimarães Rosa, mas é um fiel recorte de um momento importante na história regional do país, inserindo já no início da carreira essa escritora no rol dos romancistas representantes de um momento também muito importante da nossa literatura.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

#1 Americanah, Chimamanda Ngozi Adichie

Como eu disse uns posts atrás, entrei numa onda de Chimamanda e li um livro atrás do outro. Este foi o quarto da nigeriana e o primeiro no geral que termino em 2018.
Dos 4 que eu li (sendo os outros Hibisco Roxo, Meio Sol Amarelo e No Seu Pescoço), achei Americanah mais parecido com No Seu Pescoço, embora este seja um livro de contos, pelo fato de tratarem, na minha opinião, mais diretamente da questão da identidade.
Em Americanah, estão presentes vários outros temas também fortes nas outras obras que li da autora, como a opressão ou castração pela religião, o papel da mulher, o papel da mãe, aspectos políticos e econômicos da Nigéria. Mas aqui a personagem central, Ifemelu, se vê fora da Nigéria, se vê como uma mulher negra talvez pela primeira vez – ou pela primeira vez de uma perspectiva diferente –, pois ser negra na Nigéria é uma coisa diferente de ser negra nos Estados Unidos, mesmo tendo o green card! Todo o processo pelo qual Ifemelu passa para se adaptar ao novo país, para conseguir trabalho, amizades, relacionamentos amorosos vão torneando sua personalidade e acomodando-a no país que a acolheu sem, no entanto, dissolver sua essência.

Mas principalmente acredito em Americanah como uma linda história de amor. O casal Ifemelu e Obinze é dos mais memoráveis! Diz-se que a atriz Lupita Nyong’o adquiriu os direitos para levar a história ao cinema. Espero que ela não demore a fazê-lo. Dará um belíssimo filme!

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Retrospectiva Literária 2017

Li 37 livros em 2017!!!

Acho que nunca li tanto na minha vida. Não conta a época em que cursei Letras, porque as leituras eram obrigatórias - embora muitas delas fossem extremamente prazerosas. 

Dos 37 livros que li ano passado, foram:

·         24 romances
·         7 contos
·         7 de nacionalidade brasileiros
·         7 de nacionalidade italiana (não nos iludamos, todos Elena Ferrante)
·         7 de nacionalidade americana
·         7 de nacionalidade britânica
·         3 de nacionalidade russa
·         2 de nacionalidade indiana
·         2 de nacionalidade canadense
·         21 escritos por mulheres
·         6 era de autores ou autoras desconhecidos para mim até então
·         Dos 24 romances, 16 com protagonistas mulheres

Daí que eu fui refletir um pouco e achar padrões (ou não).

Algumas conclusões:
·         * 2017 foi o ano em que li mais contos na minha vida!!!!! E vou ler muito mais. Adoro!
·        * Sou fã confessa do gênero romance (qualquer hora mostro minha bibliografia sobre o tema), por isso ele predomina – se alguém que lê aqui não sabe que o gênero romance nada tem a ver com histórias românticas, é só dar um google
·         * Descobri e li 7 livros de Elena Ferrante
·       * Descobri e li 3 livros de Chimamanda Ngozi Adichie – comecei tarde, em novembro, mas já tem outro em andamento. Aguardem!
·       * Não li nada de poesia. Gosto, sim, mas não é o que mais me fascina. No entanto, vou incluir um pouco mais neste novo ano – quem sabe Hilda Hilst, Sylvia Plath, Emily Dickinson ou Cecília Meireles?
·        * Li duas autoras nigerianas (Chimamanda e Buchi Emecheta), mas o fundador da moderna literatura nigeriana, Chinua Achebe, já está engatilhado. Li também dois livros da indiana Jumpha Lahiri (e já tem mais um chegando). E pretendo ler outras literaturas em 2018. Isso é ótimo pra descentralizar o olhar!
·    * 6 dos livros que li eram de escritores ou escritoras totalmente desconhecidas para mim, que chegaram por meio de alguma sugestão. Acredito que sair da zona de conforto também ajuda a renovar o olhar e traz novas abordagens e perspectivas sobre o mundo à nossa volta. Vou tentar ser menos óbvia nas minhas leituras em 2018!

Sobre as resenhas

Estive pensando sobre o fato de eu não escrever praticamente nada de negativo nas minhas resenhas, de elas serem muito "amor". Daí, cheguei a alguns motivos:
1.      Quem sou eu pra falar mal de algum escritor? Não dizem as más línguas que o crítico é aquele que queria ter sido o artista e não foi? E outra: acho que não leva a nada rebaixar a obra de ninguém, a não ser que ela seja vil.
2.      Eu sempre tento ver algo de positivo no livro (ou mesmo num filme), aprender alguma coisa com o que leio, observar a narrativa, analisar os personagens, entender o contexto histórico. Alguma coisa boa sai dali.
3.    Alguns livros nos vem recomendados e não são tudo aquilo que a gente esperava, mas como coloquei no item 2, dá sempre pra tirar algo de bom. 
  Na maioria, li coisas tão boas mesmo em 2017 e que me marcaram tão profundamente, que ficou fácil elencar qualidades e tecer elogios. Fui muito feliz e sortuda!

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

#37 A Praça do Diamante, Mercè Rodoreda

O último livro lido (=terminado) em 2017 foi A Praça do Diamante, da escritora catalã Mercè Rodoreda, enviado pela TAG (www.taglivros.com.br) em dezembro. Eu não conhecia nem a obra, nem a autora.
A narradora é Natàlia, apelidada de Colometa pelo namorado, Quimet. Com sua prosa cheia de discurso indireto, ela nos leva a ver o que acontece à sua volta na Barcelona da década de 30 por meio de sua ingenuidade. Ao longo do romance, Colometa vai se tornando mais madura (casa, tem filhos, a vida é dura com ela) e a gente presencia a transformação pela qual passa também a sociedade, em plena Guerra Civil Espanhola, mesmo que indiretamente. Vale dar atenção também à presença dos pombos, do espelho e da boneca na história. Colometa retorna a eles com frequência. 
Não foi o melhor livro que li em 2017, mas foi, pra mim, muito importante ler uma autora catalã, antes de ser espanhola, uma autora que não conhecia e da qual jamais ouvira falar. Acho que foi importante terminar o ano com Mercè Rodoreda para dar o tom da necessidade de conhecer novas escritas em 2018, ampliar os horizontes, ver sob novas perspectivas. 

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

#36 Meio Sol Amarelo, Chimamanda Ngozi Adichie

Foram três livros de Chimamanda na sequência! Meio Sol Amarelo é um retrato bem desenhado do que passou parte da população da Nigéria durante a guerra pela independência da província de Biafra, no final dos anos 60 e início dos 70. A história é narrada sob três pontos de vista:
1.       Ugwu, adolescente que trabalha na casa do professor universitário Odenigbo, que na surdina participa da trama da revolução para criar  a República do Biafra;
2.       Olanna, filha de família rica, mas que se recusa a fazer parte do jogo de poder de seu pai e decide ser professora universitária, é mulher de Odenigbo;
3.       Richard, inglês fascinado pela arte de uma tribo nigeriana, vive no país há muitos anos, fala a língua ibgo, é namorado de Kainene (irmã gêmea não-idêntica de Olanna).
Diante dessas três diferentes, mas complementares, perspectivas, é possível ter uma visão mais completa de como o conflito afetou as diferentes camadas que compunham a sociedade biafrense. Acima de ser um relato sobre a guerra civil (que matou além dos soldados e civis que foram bombardeados pelas tropas nigerianas após a declaração de independência do Biafra, também os que morreram de fome, devido ao isolamento que se seguiu, durante os 3 anos de existência do Estado biafrense), esse romance épico tenta mostrar como os indivíduos tentaram continuar com suas vidas ou usaram das relações que possuíam para ajudar seu povo a sobreviver – caso de Odenigbo, que até certo ponto manteve suas aulas na universidade, e de Kainene, que usou de seu bom trânsito no meio militar para abrir caminho e facilitar a entrada de alimentos e a ajuda às pessoas desamparadas pela guerra.

Mais uma vez, acredito que Chimamanda parte do subjetivo para o coletivo, fazendo um recorte que ilustra muito bem o todo. Imperdível!