sexta-feira, 29 de setembro de 2017

#22 Uns e Outros, contos espelhados. Organização: Helena Terra e Luiz Rufatto

Quando soube que a TAG (www.taglivros.com.br) iria fazer uma edição exclusiva, confesso que torci o nariz. Sou um pouco quadrada para algumas coisas algumas vezes e queria receber na tão esperada caixinha do mês um livro consagrado na literatura mundial ou mesmo um autor que eu não tivesse lido ainda, mas que me arrebatasse, como aconteceu com John Williams e seu Stoner, em abril de 2016. Mas hoje posso dizer que Uns e Outros: contos espelhados foi um dos melhores livros que eu já recebi da TAG e umas das mais geniais sacadas que eles tiveram.
Luiz Rufatto e Helena Terra ficaram incumbidos da organização. Convidaram 10 autores contemporâneos (9 brasileiros e 1 português) para fazerem uma releitura, chamemos assim, de um conto de um autor clássico à sua escolha. Os 10 contos espelhados foram publicados junto aos 10 clássicos escolhidos. O resultado, mesmo que irregular, mesmo que nem todos os 10 tenham me conquistado, é no mínimo impressionante.
Alguns destaques (sem muito spoiler):
·        * Ana Maria Gonçalves trouxe o conto “Negrinha” de Monteiro Lobato para um caso de bullying na escola dos dias atuais. Melhor momento impossível para discutir essa questão. Parabéns pra ela!
·        *  Ivana Arruda Leite, ao trabalhar com “Marriage à la Mode”, de Katherine Mansfield, trata também de uma crise conjugal, da classe média, da insatisfação com uma vida “simples”, do deslumbramento com uma vida no meio artístico, cercada de pessoas “interessantes”. Muda o ponto de vista para uma amiga da personagem principal da primeira história.
·        * Maria Valéria Rezende traz O Colar, de Guy de Maupassant, para os dias de hoje e mantém no cerne da questão a insatisfação com o status quo, a necessidade de manter aparências (de quê?), a felicidade de parecer ser quem não é, por acreditar que aquilo a torna apreciada pelos outros.
·        * Mas é Cristovão Tezza, que fecha o livro, que cria a história mais distante da original e no fim as duas se enlaçam de maneira brilhante. Até quase o final de seu conto eu não via qual era o espelhamento com o conto Depois do Baile, de Tolstói. Mas quando o desfecha começa a se delinear, percebe-se a destreza com que ele criou uma história paralela à original, trazendo o contexto para os dias atuais, mas mantendo a mesma motivação da personagem principal.     

Detalhe: sem saber das escolhas dos outros convidados, 3 dos autores elegeram contos de Machado de Assis para espelhar. Imagino o porquê....
Enfim, se você quiser adquirir algum kit avulso da TAG, esse vale muito à pena. E, mais uma vez, não, isso não é um posto patrocinado!

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

#21 Amsterdam, Ian McEwan

Depois de uma semana sem publicar (curtindo merecidas férias), estamos de volta ao blog.
Demorei para escrever esta resenha porque não sabia bem o que havia achado deste livro. Gosto muito do Ian McEwan, já vários outros dele, mas confesso que não sei bem o que dizer deste Amsterdam.
Dois amigos se encontram no funeral de uma ex-amante de ambos e isso suscita temores de que um mal semelhante possa acometê-los. Acontecimentos específicos da vida de cada um norteiam a narrativa, mas, apesar de até serem pontos interessantes (gostei muito mais do que envolve o jornalista, por ter sido essa minha profissão por 10 anos), ficava me perguntando onde que a história iria dar. Até que faltando cerca de 1/5 da leitura, o desenrolar começa a se configurar. Pensando bem, é um típico livro de Ian McEwan. 

terça-feira, 5 de setembro de 2017

#20 Em Águas Sombrias, Paula Hawkins

Descobri Paula Hawkins no início desse ano, quando li A Garota do Trem, porque estava numa baita promoção no Kindle. Acontece que não conseguia parar de ler e comecei a pensar que a Paula ia tomar o lugar da Gillian Flynn na minha vida. Só que a Paula só tinha publicado esse livro e o lançamento de Sob Águas Sombrias estava previsto para maio (meses a frente....). Até que em junho ganhei de presente de aniversário!!!
Confesso que demorei para engajar na leitura desse. Talvez por ter iniciado em uma semana cansativa, em que eu acabava dormindo antes de concluir um pequeno capítulo, e a coisa não engrenava. Até que consegui engatar a 2ª e a leitura fluiu. 
Primeiramente, a única semelhança, creio, com o livro début da autora é a narrativa sob diferentes pontos de vista (cada capítulo é um personagem contando a história de um viés diferente). Ok, não é novidade, mas devo admitir que A-DO-RO!!! No início, são peças bem soltas de um quebra-cabeças que parece difícil ainda de montar, mas aos poucos vamos encaixando as partes.
A história tem um quê de misticismo que não me agradou muito, mas as nuances dos relacionamentos entre as personagens da mesma família foram os aspectos que mais me agradaram. Acho que alguns personagens poderiam até ter sido melhor explorados, davam margem à profundidade (vide Katie e Jules), mas ainda assim as relações tecidas são bem interessantes para quem curte esse lado.

Enfim, uma autora para prestarmos atenção. Muita coisa boa deve vir ainda! Assim espero!