segunda-feira, 25 de junho de 2018

#23 Voragem, Junichiro Tanizaki


O primeiro livro de literatura japonesa que a gente lê a gente nunca esquece! É assim que sinto que vai ser com este Voragem, de Junichiro Tanizaki, escrito e publicado nos anos 30 no Japão imperial, uma época em que o país já passava por influência ocidental, mas que (ou talvez por isso mesmo) mantinha certo conservadorismo. Considero o primeiro, porque Kazuo Ishiguro (que já li), embora nascido no Japão, é como escritor muito mais britânico do que japonês.
Pois a história de um amor lésbico passado nos anos 30 no Japão, narrado com delicadeza e sutileza, é o pano de fundo para o revelar do que é capaz a alma humana. Ou do que são capazes as pessoas por uma paixão avassaladora, como se perde o bom senso e se envolve num jogo de intrigas, chantagens, obsessões e mentiras.
Conforme a narradora Sonoko começa a contar sua história com Mitsuko, somos envolvidos como numa espiral. Quanto mais próximo ela chega do âmago do acontecimento principal, mais intricadas são as atitudes dos personagens, tão bem (des)construídos, e mais profundamente estão eles entrelaçados.
Só não li em menos tempo, porque não vivo disso. Certamente este livro abre as portas para mais obras desse autor e de outros e outras de mesma origem e qualidade.
Em tempo: estou lendo, escrevendo e publicando praticamente em tempo real. Houve uma época em que eu tinha 5 ou 6 cartas na manga. Agora estou tentando ler um por semana para ter algo a publicar toda segunda-feira. #oremos

segunda-feira, 18 de junho de 2018

#22 Na praia, Ian McEwan


Este romance lançado em 2007 é o 9º do autor britânico que eu leio e não deixou nada a desejar aos anteriores. Conta a história de dois jovens ingleses que se casam no começo dos anos 60 e não sabem como se comportar na noite de núpcias. A falta de experiência, traquejo, clareza do que querem leva a o que seria hoje um episódio até cômico. Dado o contexto da época retratada (logo antes de um período de liberação do comportamento no final da mesma década) se torna um drama na vida desses jovens e revela várias nuances de personalidade, aspectos de convenção social, contexto histórico, classe social. Tudo isso impacta no comportamento deles e em suas vidas.
Como sempre, McEwan sabe contar uma história como ninguém. A maior parte do que é narrado se passa em poucas horas, mas o vai-e-vem no tempo dá todas as condições para que tomemos mais contato com os personagens e de onde eles vem e tenhamos uma noção maior do todo.
Pela concisão do livro (apenas 128 páginas, que eu teria devorado em dois dias, mas como não vivo disso, demorei uma semana, e que semana!), construção dos personagens e beleza que se revela, considero um dos melhores Ian McEwan que li. Ele é, sem dúvida, um dos maiores autores da atualidade.

domingo, 10 de junho de 2018

#21 Stalker, Tarryn Fisher


Vocês já sabem que eu assino a TAG Experiências Literárias, que agora é TAG Curadoria. Mas também já faz dois meses que recebo os livros de um outro selo deles recém-lançado, a TAG Inéditos. Enquanto a primeira traz para o leitor livros mais consagrados (mas nem por isso muuuuiiiito conhecidos), esta última trabalha com best-sellers. O que é legal é que os livros são inéditos no Brasil, de autores que estão bombando lá fora. Umas semanas atrás já publiquei a resenha de A Boa Filha (http://adrianabuzzetti.blogspot.com/2018/05/18-boa-filha-karin-slaughter.html), que foi o primeiro livro enviado por este selo. Em maio recebi Stalker. Não espere uma grande obra da narrativa contemporânea, mas a história vai prender e fazer quem lê não querer parar. Fig Coxbury teve frustrado seu sonho de ser mãe e ainda foi abandonada pelo marido. O que ela sempre sonhou como família ideal aparece na sua frente em um parque de Seattle, onde mora. Ela acredita que tem que ir atrás do que é seu e se infiltra na vida dessa família. O que de cara parece ser o caso de uma sociopata revela outros podres que foram varridos para debaixo do tapete. Bem rasinho, mas bem gostoso de ler se não quer quebrar a cabeça e só curtir uma historinha de perseguição. Engraçado é que o título Stalker ficou só com a edição lançada aqui. Embora seja uma palavra em inglês que nós já aportuguesamos (vide o verbo stalkear ou estalquear), na edição original se chama Bad Mommy. Quer ler vai entender.

terça-feira, 5 de junho de 2018

#20 Tempo de Migrar para o Norte, Tayeb Salih


Eu já falei outras vezes que a #taglivros vem me proporcionando experiências incríveis, não é à toa que seu nome é Tag Experiências Literárias. Nesses dois anos de assinatura tive oportunidade de ler autores e autoras de quem eu jamais ouvira falar, e olha que eu leio uma certa variedade! Tive oportunidade de estar em contato com culturas diferentes, escritores de nacionalidades que eu nunca havia lido antes, histórias e personagens os mais ricos. E isso não é um post pago. É que sinto necessidade de explicar de onde eu tirei um escritor sudanês!!!
O livro de maio do clube foi indicado por Milton Hatoum, escritor brasileiro contemporâneo de quem eu também gosto bastante, então já vinha com uma certa avaliação, digamos. O narrador, além de não ser o personagem principal, não é nomeado. Ele, ao contar a história do conterrâneo Mustafa Said, que teve trajetória semelhante à sua, saindo do Sudão para estudar na Inglaterra, em épocas distintas, e voltando à terra natal para viver em sua aldeia de origem, está também fazendo uma análise do colonialismo, da herança britânica na colônia africana, do olhar do Ocidente sobre o Oriente e vice-versa, por fim, da alma humana.
Como já disse antes, recomendo fortemente a todos que gostam de ler que saiam um pouco de sua zona de conforto e leiam de vez em quando algum autor/autora de algum país sobre o qual você não saiba muita coisa (ou um assunto que não seja exatamente seu foco de interesse). Não quer dizer que após ler a obra literária você vai passar a saber. Mas é uma forma de tomar contato com outras escritas, com outras maneiras de pensar, com outras narrativas, personagens intrigantes e pode até te fazer querer saber mais sobre aquele lugar, aquele país, seu povo e sua história e aí você pode buscar informação por conta própria. E conhecimento nunca é demais!