segunda-feira, 28 de maio de 2018

#19 O Assassinato e Outras Histórias, Anton Tchekhov


Quem acompanhou o blog no ano passado viu que eu sou fã de literatura e cultura russa e que Tchekhov é um dos meus autores preferidos. Falta ler muitas coisas ainda, mas este O Assassinato e Outras Histórias foi o último livro de contos que eu tinha e ainda não havia lido. Ao contrário de O Beijo e Outras histórias e A Dama do Cachorrinho e Outras Histórias, os contos presentes aqui vem da fase final da vida do escritor, que morreu em 1904 – a maioria foi escrita no final do século XIX ou na virada do XIX para o XX.
Outra diferença em relação aos dois outros livros de contos é que os textos aqui presentes também são mais longos. Segundo Rubens Figueiredo, que traduziu e escreveu o prefácio desse livro, o tom de humor que sempre permeou as histórias anteriormente publicadas já não está presente nas reunidas nesse livro e os contos aqui também carregam um tom mais inconclusivo. Isso, muitas vezes, nos faz questionar: “Essa história é sobre o quê?” E é aí que mora a beleza da escrita desse autor russo: ele faz o leitor ver a beleza, a tristeza, a emoção da vida nas mais pequeníssimas coisas. Você fica com a impressão de que o conto é sobre nada em especial, mas ele, no fundo, te mostra tudo que pode estar ou representar um recorte simples do cotidiano.
Pra mim, Tchekhov é um dos maiores escritores de todos os tempos.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

#18 A Boa Filha, Karin Slaughter


Esse romance “fresquinho” de 2017 é um thriller. Um crime que aconteceu há 28 anos e que parecia ter estabilizado a relação entre as pessoas envolvidas bem como suas vidas volta à tona devido a um outro crime envolvendo algumas das pessoas que estiveram na cena do primeiro, embora um não tenha nenhuma relação com o outro.
Apesar de a narrativa se arrastar em alguns momentos (as quase 500 páginas poderiam ter sido reduzidas para umas 300 ou 350), em outros fazem o leitor esquecer de fome, sono e outras necessidades fisiológicas para não parar de acompanhar essa história. É, sim, um típico page-turner, ou seja, aquele livro que você não consegue parar de virar as páginas para continuar lendo.
Algumas personagens poderiam ter sido melhor construídas. O aspecto religioso na Sra. Pinkman, por exemplo, achei um tanto quanto caricato. O mesmo com o motivo do personagem-elemento surpresa do crime de 28 anos atrás ou o caráter extremamente benevolente de Ben (algum trocadilho?), marido de Charlotte.
Sendo assim, não espere nenhuma obra-prima. Mas é uma leitura agradável, diversão na certa!

segunda-feira, 14 de maio de 2018

#17 Reparação, Ian McEwan


Normalmente eu leio o livro e depois vejo o filme, mas aqui foi o contrário. Assisti ao filme Desejo e Reparação acredito que há quase (ou mais de) 10 anos e adorei. Naquela época, não havia lido Ian McEwan ainda, e até chegar a Reparação eu li outros 6 livros dele. Embora tivesse adorado o filme, achava que o livro não ia me trazer surpresas porque já conhecia a história. Mas aí que é que está o que faz a boa literatura: não é o que se conta, mas COMO se conta, e isso é evidente nesse livro. O começo um pouco arrastado e focado demais na adolescente Briony é absolutamente necessário para a construção da personagem que é quem dispara o gatilho para se desenrolar a trama central do romance.
Numa tarde quente do verão de 1935 na Inglaterra, a jovem Briony, que sonha em ser escritora, está às voltas com os primos que deveriam encenar uma minipeça que ela escrevera. Enquanto isso, ela vê a irmã, Cecelia, conversando e se refrescando com um amigo de infância, Robbie, na fonte da casa da família. Esse e outros acontecimentos um pouco mais obscuros despertam na jovem escritora wanna-be a fértil imaginação e o que ela revela acaba por influenciar drasticamente a vida de outras pessoas. Briony tenta, já adulta, reparar o mal que causou. É uma personagem bastante complexa, posto que se torna difícil rotulá-la. As divagações e reflexões que vão aparecendo no decorrer do romance mostram como McEwan consegue criar personagens interessantes e como ele delineia uma história (de amor) bonita, forte, mas não piegas. Eu arriscaria considerar dizer que é o melhor romance desse autor britânico (entre os sete que já li). Se você ainda não leu McEwan, é uma excelente porta de entrada.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

#16 A Glória e seu Cortejo de Horrores, Fernanda Torres


Não li o primeiro romance da atriz e escritora Fernanda Torres, Fim, publicado em 2013. Também não li seu livro de crônicas, Sete Vidas, de 2014. E confesso que esse seu segundo romance, A Glória e seu Cortejo de Horrores, lançado em 2017, quase ia pelo mesmo caminho, mas a sinopse me agradou. Acho muito abstrato dizer que parte da sinopse de um livro dá aquele clique que te faz pensar: “Quero ler!”. Mas com esse foi meio assim. E como estávamos bem no fim do ano passado, coloquei na minha lista de sugestões de presentes de amigo secreto e uma colega querida escolheu pra me presentear, junto com o novo de Milton Hatoum, que logo deve estar aqui no blog também!!!!
Resumindo: devorei em 3 dias a história de erros e acertos do ator Mario Cardoso, do início de sua carreira nos anos 60 até os dias de hoje. Primeiro, que a autora consegue imprimir uma narrativa extremamente cativante, escrevendo em 1ª pessoa na voz de Mario. Segundo que tem um quê de tragicomédia na história. E, por último, mas não menos importante, porque o enredo é permeado de reflexões sobre a vida na voz de Mario, mas que podem ser da própria Fernanda, minha, sua, dos nossos amigos contemporâneos.
Pra quem possa vir a ter qualquer preconceito pelo fato de ela trabalhar para a maior rede de televisão do país e por tudo o que isso representa, eu diria: dispa-se dele e não se prive de tamanho deleite.

terça-feira, 1 de maio de 2018

#15 A Visita Cruel do Tempo, Jennifer Egan


Já havia visto esse livro algumas vezes nos sites de livraria e o título me chamou a atenção. Muitas vezes a gente precisa daquele empurrãozinho de uma promoção para chegar a uma determinada obra. Nesse caso, valeu a pena. Me identifiquei de forma intensa com a história, que é contada sob o ponto de vista de diversos personagens, de momentos diferentes no tempo e espaço, sendo que de certa maneira todos estão ligados.
O pano de fundo é a música (porque será que me identifiquei tanto?????), já que um dos personagens, Bennie, é produtor musical em Nova York, que teve seu apogeu nos anos 80, quando foi responsável por lançar a banda punk Conduits, mas hoje já não goza de tanto prestígio. A história acompanha a vida dele e de alguns amigos (e amigos de amigos) que o cercam e que vivem em função da música (como lazer) desde a adolescência. Mas poderia ser qualquer outro contexto se a autora não fosse jornalista musical e não estivesse também envolvida nesse meio por quase toda a vida.
É um bonito e triste filme de como as amizades podem se perder (como um processo natural da vida) e de como podem ser resgatadas; de como a gente pode se arrepender e se ressentir por não se tornado o que sonhava que se tornaria aos 20 anos de idade; e de como alguns desfechos são inevitáveis.