terça-feira, 19 de dezembro de 2017

#28 As Alegrias da Maternidade, Buchi Emecheta.

Uma garota nascida na Nigéria dos anos 20, cresce na cidadezinha de Ibuza, em meio às tradições do povo igbo, ao qual pertence. Ali, os homens podem ter quantas esposas quiserem e elas tem a obrigação de lhes dar filhos – homens, de preferência. Uma mulher só era considerada completa naquela época e naquela cultura se fosse mãe. Esse era seu papel. Nnu Ego não questiona. É isso que ela mais deseja para sua vida.  No entanto, enfrenta dificuldades. Primeiro, para engravidar (e a ‘culpa’ recai totalmente sobre ela). Depois, para cuidar dos filhos sob as mais adversas condições na capital Lagos, onde os costumes de seu povo já não são o lugar comum e ela se vê adotando por conveniência uma nova religião e enfrentando problemas que vão gerando, por meio de Nnu Ego ou de outros personagens, questionamentos: sobre a condição da mulher, sobre a cultura da qual vinha, o papel da família (dela como filha e de seus filhos), e vai, assim, nos conduzindo a acompanhar sua jornada pela sobrevivência.
Eu nunca tinha ouvido falar da escritora nigeriana Buchi Emecheta até receber meu kit de outubro da TAG Experiências Literárias (www.taglivros.com.br), sugerido pela curadoria de ninguém mais ninguém menos que Chimamanda Ngozi Adichie, o que me despertou a curiosidade e enquanto publico essa resenha leio já o terceiro livro de Chimamanda. Aguardem).
A narrativa de As Alegrias da Maternidade é muito linear e a história é contada praticamente de forma cronológica. Mas o que surpreende e cativa é como Buchi nos leva para dentro da cultura igbo, às vezes em conflito com outro povo também nigeriano, os iorubás, e uma vida completamente diferente da que conhecemos no dito Ocidente se descortina. Não gosto de generalizações, mas mesmo levando em conta que o que nos mostra é apenas um recorte da cultura de seu país, é um excelente painel de uma vida que pode, sim, representar muitas.

Com um título claramente irônico, a obra traz à tona a questão da violência doméstica, da perpetuação de papeis sociais, da colonização (no caso) britânica na África e até da 2ª Guerra Mundial, que foi responsável por muitos africanos serem tirados de suas famílias e trabalhos no seu país e levados a lutar por algo que sequer sabiam o que era ou representava, deixando, dessa forma, suas esposas e (muitos) filhos com mais dificuldades financeiras ainda do que já tinham com os homens trabalhando. Um retrato belo e triste que vale cada letrinha impressa. Devorei em 3 dias. 

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