A febre Elena Ferrante me pegou tão
de jeito que depois de ter devorado a tetralogia A Amiga Genial eu já engatei os outros romances da autora. E esse Dias de Abandono é tão pungente, tão
visceral que chega a ser um soco no estômago. Não que a tetralogia fosse cheia de meiguices,
não. A vida era dura lá também, até mais dura que aqui. Mas a forma de narrar,
o que se diz e como se diz torna esse romance muito mais cru.
Olga, a narradora, conta logo de
cara a origem de tudo pelo que passa nessa história: “Uma tarde de abril, logo
após o almoço, meu marido me comunicou que queria me deixar”. O que vem daí é um
dos relatos mais nus e crus das agruras por que passa uma mulher abandonada pelo
marido que perde o controle de si. Mas o abandono do título não vem só do fato
de Olga ter sido deixada por Mario. É o abandono de Olga por ela mesma, que
deixa de querer viver em alguns momentos; é o abandono dos filhos por Olga, que
os relega a segundo plano; é o abandono dos filhos por Mario também, porque ele
passa a ficar muito pouco presente.
Quantas mulheres não são deixadas
por seus maridos? Muitas. Até aí nada de novidade. Mas a forma como Olga nos
conduz por seu abandono traz à tona tudo aquilo que muitas de nós sentimos, queremos
dizer, queremos fazer, mas não nos damos ao trabalho ou nossa índole não
permite ou o relacionamento já não vale o desgaste de tudo isso. Ferrante nos
brinda com uma personagem real, verossímil e que nos representa muito bem. Por
que tem horas que o melhor a fazer é colocar todos os demônios para fora e
gritar e xingar.
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