segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

#29 Dias de Abandono, Elena Ferrante

A febre Elena Ferrante me pegou tão de jeito que depois de ter devorado a tetralogia A Amiga Genial eu já engatei os outros romances da autora. E esse Dias de Abandono é tão pungente, tão visceral que chega a ser um soco no estômago.  Não que a tetralogia fosse cheia de meiguices, não. A vida era dura lá também, até mais dura que aqui. Mas a forma de narrar, o que se diz e como se diz torna esse romance muito mais cru.
Olga, a narradora, conta logo de cara a origem de tudo pelo que passa nessa história: “Uma tarde de abril, logo após o almoço, meu marido me comunicou que queria me deixar”. O que vem daí é um dos relatos mais nus e crus das agruras por que passa uma mulher abandonada pelo marido que perde o controle de si. Mas o abandono do título não vem só do fato de Olga ter sido deixada por Mario. É o abandono de Olga por ela mesma, que deixa de querer viver em alguns momentos; é o abandono dos filhos por Olga, que os relega a segundo plano; é o abandono dos filhos por Mario também, porque ele passa a ficar muito pouco presente.

Quantas mulheres não são deixadas por seus maridos? Muitas. Até aí nada de novidade. Mas a forma como Olga nos conduz por seu abandono traz à tona tudo aquilo que muitas de nós sentimos, queremos dizer, queremos fazer, mas não nos damos ao trabalho ou nossa índole não permite ou o relacionamento já não vale o desgaste de tudo isso. Ferrante nos brinda com uma personagem real, verossímil e que nos representa muito bem. Por que tem horas que o melhor a fazer é colocar todos os demônios para fora e gritar e xingar.

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