Eu tive 3 paixões literárias em
2017: Elena Ferrante, os russos (que foi na verdade um reavivamento de uma
chama antiga!) e uma terceira que vocês saberão amanhã. O livro de hoje não é exatamente
escrito por um russo (embora o autor tenha descendência eslava por parte de
mãe), mas sobre um russo, uma espécie de reportagem biográfica.
Um dos aspectos mais legais de ler
é conhecer outros mundos. Eu não conhecia nem o autor do livro (Emmanuel
Carrère, que eu soube depois ser muito famoso na França) nem sobre quem ele
escrevia (Eduard Limonov, poeta, escritor, ativista, dissidente político
russo). Tanto é que quando recebi esse livro no kit de junho da TAG (www.taglivros.com.br) não me interessei muito e só o li em novembro, motivada
pelo fascínio que a cultura e a história russa exercem sobre mim e que estava
exacerbado depois de Tolstói.
O personagem, digamos, não é uma
figura por quem você cai de amores com facilidade: ele é controverso, teve
atuações que podem ser tomadas como inconsequentes, levou uma vida em muitos
momentos desregrada, mas no final eu fiquei hipnotizada. Contribuiu para isso a
escrita apaixonada/apaixonante de Carrère, que te prende do começo ao fim,
embora ele tenha dito em reportagem da Folha de São Paulo que, depois de passar
duas semanas com o objeto de sua pesquisa para compor o livro, ele não mais
sabia se gostava ou não de Eduard ou se ele era mocinho ou vilão. Mas talvez as
coisas não sejam mesmo assim tão simples de definir, Monsieu Carrère...
Mais do que conhecer a vida do
biografado, ao ler Limonov conhece-se um pouco (mais) da história da União
Soviética, desde o fim da II Guerra Mundial (época em que Limonov nasceu),
passando pela guerra fria, até a Rússia dos anos 2000 e a era Putin, a quem
Limonov fez oposição ferrenha. Obviamente o olhar é enviesado (o que não é,
afinal?), mas se o leitor já possui outras informações sobre esse país vai
juntar as pecinhas desse imenso (não resisti ao trocadilho) quebra-cabeças e
formar uma nova (ou ampliada) paisagem.
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