Obviamente todos que se atentam um pouquinho
ao mundo literário, ouviram falar da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie este
ano, muito devido aos seus livros de cunho abertamente feminista. Ela foi minha terceira paixão literária de 2017, depois de Elena Ferrante e os russos, como havia mencionado no post de ontem. Mas o que me
atraiu mais em Chimamandafoi ler suas obras que retratam a vida em seu país de origem. Uma
amiga muito querida já tinha me indicado Hibisco
Roxo e lá fui eu conhecer Chimamanda.
A história desse romance é narrada
pela jovem Kambili. Ela é filha de Eugene, um rico nigeriano, dono de fábricas
de bebidas e alimentos. O ambiente familiar é de pura repressão. Eugene é um
cristão fervoroso e obriga a família a rezas diárias, idas à missa, uma rotina
com todas as atividades cronometradas e planejadas para os dois filhos
adolescentes (Kambili e seu irmão Jaja), a quem sobra pouquíssimo ou nenhum
tempo para fazer o que desejam.
A situação não poderia ser mais
contraditória: Eugene é admirado pela comunidade por suas atividades de
caridade, mas em casa espanca a sua submissa esposa e pune os filhos de forma também
cruel, exerce violência física e psicológica, renega seu pai, que não abriu mão
de sua religião local em nome do cristianismo imposto ou trazido pelo branco
colonizador, como Eugene fez. Eugene impede até que os filhos convivam com o
avô, a quem chama de pecador e pagão.
Através da convivência e da
admiração pela tia Ifeoma, a voz quase inaudível de Kambili aos poucos vai
desvelando a história, atribuindo-lhe contornos que revelam um pouco mais da
essência da adolescente e do mundo em sua volta. Mesmo com essa voz débil,
Chimamanda consegue pintar um quadro bem nítido das condições sob as quais
Kambili e seu irmão viviam. E a menina quase muda vai ganhando um pouco mais de
voz e um pouco mais de liberdade. Um dos livros mais lindos que já li!
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