quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

#49 Nada, Carmen Laforet


Nada conta a história da jovem Andrea, que vai do interior da Espanha para a Barcelona pós-Guerra Civil Espanhola a fim de cursar Letras na universidade local e morar com os parentes que lá vivem.
Seu percurso acadêmico fica em segundo plano para dar lugar ao sentimento de inadequação que Andrea vive. A começar pela sua chegada à casa em que moram a avó e alguns tios. Sinais de decadência na moradia e nas relações entre os familiares saltam aos olhos. A jovem sente que é um incômodo na casa, pois veio a dar gastos e desequilibrar ainda mais uma dinâmica que já não era nada equilibrada.
Na universidade, mais sentimento de não-pertencimento: ela sente vergonha de suas roupas, seus sapatos, sua falta de materiais, sua origem humilde, enquanto todos os outros alunos parecem ter condições melhores. Ena é a amiga que acolhe Andrea, mas com quem também parece ter uma relação ambígua.
Um dos méritos da escritora Carmen Laforet foi de não ter feito uma crítica aberta ao regime franquista, revelando detalhes de como era a vida sob a ditadura de forma bastante sutil. Com isso, escapou da censura do período, sendo até agraciada com o Prêmio Nadal. No entanto, a família da escritora se viu retratada por meio de vários personagens do livro, se ofendeu e policiou suas publicações futuras, o que culminou em obras cada vez mais escassas.
Com uma linguagem limpa, livre de sentimentalismos (mesmo diante de uma realidade triste e difícil), Carmen Laforet consegue expressar uma sensível poesia frente a atrocidades que marcaram a vida dos personagens.

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